sexta-feira, 29 de junho de 2012

Os novos cartazes de The Campaign

The Campaign, nova comédia dirigida por Jay Roach (Austin Powers) e estrelada por Will Ferrell e Zach Galifianakis (Se Beber não Case!) teve mais dois cartazes divulgados, confira.

Na trama escrita por por Chris Henchy (Os Outros Caras) e Shawn Harwell, dois políticos da Carolina do Norte com aspirações presidenciais tentam destruir a campanha um do outro.
Jason Sudeikis, Sarah Baker, Dylan McDermott, Katherine LaNasa, Brian Cox, John Lithgow, Dan Aykroyd, Scott A. Martin, Thomas Middleditch, Josh Lawson, Karen Maruyama, Amelia Jackson-Gray e Heather Lawless completam o elenco.
A esteia acontece no dia 10 de agosto de 2012.

Odisseia Cósmica



Prelúdio sobre os Novos deuses:
Voltando aos primórdios, temos a Fonte. E em Nova Gênese os Novos deuses comungam com ela. 
Voltando aos primórdios, Jack Kirby deixou a Marvel e foi trabalhar na DC. Asgard, o lar dos velhos deuses foi consumida por uma guerra irrefreável. Então, dos espólios dessa contenda cósmica, nasceram os Novos deuses. 
Essa versão não é exatamente a oficial, mas retrata com fidelidade o simbolismo que houve na época da troca das editoras. Os Novos deuses de Jack Kirby, escritos, desenhados e EDITADOS por ele, duraram apenas onze números. As vendas não eram boas. Não era pra um ser um mero gibi de bancas. Era algo para entrar na história dos quadrinhos.
Junto com Novos deuses, Kirby também produziu “Senhor Milagre” e “O Povo da Eternidade” Juntas, essas obras formam o que tempos depois ficaria imortalizado como o “Quarto Mundo de Jack Kirby”. 
E foi justamente nessas histórias, que ele deixou seu maior legado para a DC Comics… não um herói, nem de longe o melhor e mais inspirador dos heróis, afinal, ela já tinha Superman.  Era um vilão. O pior e mais diabólico todos: Darkseid. 
E junto com Darkseid, fomos apresentados a “Equação Antivida”.
Esse pequeno prelúdio foi apenas uma preparação para falar do assunto que realmente quero tocar, a clássica minissérie “Odisseia Cósmica”, de Jim Starlin e Mike Mignola  , onde mais uma vez os Novos deuses são revisitados. Voltam para a Fonte.
Mas quem bebeu dessa fonte foi o escritor Jim Starlin. Famoso por suas histórias espaciais e também por ter sido a mente por trás da memorável “Morte em Família”, onde Jason Todd, o segundo Robin é assassinado pelo Coringa. (Tudo bem que ele ressuscitou anos depois, mas por um longo tempo essa história teve um peso sobre toda a trajetória seguinte do homem morcego, sem contar no impacto que causou na época).
Mike Mignola? Você sabe; artista fantástico, criador do Hellboy, personagem de grande sucesso da Dark Horse.

Que droga Jonh! A bomba é AMARELA!
Mas, voltando à Odisseia, temos aqui uma legítima HQ de super-heróis que honra a memória do velho Kirby, e vale ter guardada na estante. Alguns dos acontecimentos ecoam no universo DC até hoje, como o fato do planeta Xanshi ter sido totalmente destruído devido a arrogância do Lanterna Verde John Stewart e as sequelas emocionais que isso lhe causou.

Isso mesmo crianças: EU SOU SEU PAI!
Essa versão tem uma interpretação própria de Jim Starlin sobre a Antivida. Em sua visão, a mesma trata-se de um ser de poder absoluto que vive às margens da realidade; ele teria sido criado pela mesma guerra que destruiu o mundo dos velhos deuses, subsequentemente dando origem a Nova Gênese e Apokolips, lar de Darkseid.

Darkseid mantendo Etrigan "na coleira" ...
A história tem uma premissa simples: Metron dos Novos deuses, com sua fome insaciável de conhecimento, encontra uma forma de entrar em contato com a Antivida, mas é surpreendido por sua aparente onipotência e consegue escapar dela por pouco, porém com sua mente  terrivelmente danificada. O problema é que ao escapar, ele abriu uma brecha nas dimensões, possibilitando a Antivida a enviar quatro espectros para a nossa realidade. Darkseid resgata  Metron e o leva para Nova Gênese, formando uma aliança improvável com os Novos deuses, pois eles descobrem que esses quatro espectros pretendem aniquilar quatro sistema estelares específicos, e conforme explica Darkseid: “A gravidade é o cimento que mantém todas as coisas coesas, inclusive as galáxias. A via láctea é uma joia de equilíbrio precário, milhões de estrelas interlaçadas e interdependentes. Dos quatro sistemas estelares  na tela… destrua dois deles e a via láctea irá ruir sobre si mesma”.
A destruição total possibilitaria então a livre entrada da Antivida na nossa realidade.

O quadro negro de Darkseid.
Para impedir essa tragédia, foram convocados os heróis da Terra e de outros planetas para impedir a ação dos espectros e salvar o universo. Os escolhidos foram J´onn J´onzz, Estelar, Lanterna Verde (Stewart), Superman, Batman e Jason Blood, hospedeiro do demônio Etrigan (Outro legado maldito de Kirby para a DC). Além disso eles tiveram apoio direto dos Novos deuses Órion, Lightray (estranhamente batizado no Brasil como “Magtron”), Forrageador e o aventureiro estelar Adam Strange.
Apesar da já citada premissa simples, a história prende. Jim Starlin estava em plena forma, os diálogos podem não ser geniais, mas convencem. E a arte de Mignola dá o toque sombrio que ela precisava. Temos alguns momentos tensos, como o sacrifício de Jason Blood ao aceitar se unir novamente a Etrigan, o duelo moral de Superman e Órion e a dinâmica bem construída entre Batman e Forrageador, que morre para salvar a Terra, e mesmo sendo um personagem praticamente desconhecido, causa impacto com sua partida.
Mesmo fugindo do conceito original de Kirby para a Antivida, essa minissérie merece todos os créditos por ser uma aventura divertida e bem feita, diferente de alguns recentes trabalhos de Jim Starlin com os Novos deuses, que deixaram tudo a desejar. Esse conceito de que a Antivida seria uma forma de controle mental em massa, foi resgatada por Grant Morrison em sua “Crise Final”, que em sua essência nada mais é do que uma releitura da obra de Jack Kirby. Um retorno à Fonte.
Odisséia Cósmica, foi republicada pela Panini em um encadernado, contendo alguns extras.
Vale a pena reler sem compromisso e sem culpa. Está na minha lista de clássicos preferidos dos anos 80.
Nota: 9

 
Por Rodrigo Garrit
Originalmente publicado no Santuário

Laerte e seu Overman: O criador, a criatura e o mito!


  
Laerte
Eu me lembro de ter caído na gargalhada na primeira vez que li a tirinha do Overman, no jornal “O Dia” (já que sou do Rio de Janeiro), mas originalmente eram publicadas no jornal Folha de São Paulo, e foram mais de 400 tiras lançadas….
Passei a acompanhar religiosamente, chegava a recortar o jornal e montar meu próprio painel com a “aventuras” do herói.
Eu sempre fui fã do Laerte, o pai dessa criança. Mas, como não ser? O cara é genial numa das coisas mais difíceis que existem: contar uma história em três ou quatro quadros. Laerte Coutinho é um nome consagrado dos quadrinhos brasileiros, sobre quem muito pouco é necessário dizer, pois é muito conhecido do público leitor. No fim da década de 80 publicou tiras e histórias em quadrinhos nas revistas Chiclete com Banana   (editada por Angeli), Geraldão (editada por Glauco) e Circo, todas da Editora Circo, que mais tarde lançaria sua própria revista (Piratas do Tietê). Em 1985 lançou seu primeiro livro, “O Tamanho da Coisa”, uma coletânea de suas charges.

 
Em 2009, Laerte foi convidado para participar do álbum MSP 50 em homenagem aos 50   anos de carreira de Mauricio de Sousa  , e criou uma história protagonizada por Franjinha e seu cachorro Bidu. Ele também atuou como roteirista, tendo colaborado em diversos programas da Globo. Escreveu scripts para os programas humorísticos TV Pirata   e para as primeiras temporadas de Sai de Baixo. Ainda na área de humor escreveu para o quadro Vida ao Vivo que ia ao ar durante o Fantástico, em 1997, e também contribuiu com os roteiros do programa infantil TV Colosso  .
  O Overman de Laerte é um super herói brasileiro, apesar do nome em inglês, e é justamente nisso que mora grande parte da graça: ele é uma paródia escrachada de todo o arquétipo heroico das americanas Marvel e DC.    Ele usa uniforme colante, capa, máscara, é super forte e pode voar. E sua vida é uma sucessão de tragédias cômicas que fazem a alegria dos leitores.
A identidade do Overman é um segredo secretíssimo, tanto que nem ele mesmo sabe quem é…
  
Overman tem um ajudante chamado “Ésquilo” (assim mesmo, com acento), e eles dividem uma vaga de pensão no Ipiranga. É ele quem faz o remendo nos fundilhos do uniforme do herói. Overman passa os dias combatendo o crime (à sua maneira) e vivendo as desventuras de ser essa criatura incrivelmente rodeada de nonsense, mas sem nunca deixar de acreditar que é o maior dos maiores. (Embora tenha algumas crises de auto-estima, mas nada que seu terapeuta não resolva).
Como todo bom herói, Overman tem sua própria galeria de vilões, e entre eles destacam-se, o Maníaco Flatulento, o Passador de Trote, a Louva-DeusaGrande Rabo e Super Vítima, além de ninguém mais ninguém menos que Space Ghost  , embora não seja exatamente um vilão, mas Overman insiste em dizer que teve o design de seu uniforme roubado por este personagem da Hanna-Barbera.
Nas tiras do personagem, vemos que ele é imune ao sexo, exceto nas sextas-feiras, quando o herói sai a noite para aliviar as tensões. E não poupa ninguém! É um perigo!
Em 2003, foi lançado “Overman – o Álbum, o Mito”, pela editora Devir, (48 páginas coloridas), depois de dez anos sem histórias longas inéditas de Laerte.  O álbum reúne as primeiras tiras de Overman, apresentas numa seleção de 150 tiras, agrupadas segundo temas específicos, enfocando o local de moradia do herói, seus inimigos, seus vícios, suas dificuldades pessoais, sua vaidade, entre outros. Muitíssimo divertido, como não poderia deixar de ser… essencial para qualquer fã de bons quadrinhos!
            Também chegaram a ser produzidas numa parceria entre a Ancine e o Cartoon Network algumas vinhetas com o personagem que foram exibidas no Adult Swim, e hoje podem ser facilmente encontradas no Youtube.  
Saiba mais sobre Overman e os outros personagens do autor no site oficial dele:
http://www.laerte.com.br/

ANTES DE WATCHMEN E DEPOIS DO CAVALEIRO DAS TREVAS: Por que as histórias são feitas?




Se você é um leitor que só quer ver seus personagens prediletos eternamente à sua disposição e não dá a mínima para quem os criou, provavelmente você não é o leitor que eu quero. Tenho um respeito imenso pelo meu público. Sempre que encontro estas pessoas, presumo que seja gente inteligente, com escrúpulos. Mas quem quiser comprar esses prelúdios de Watchmen estará me fazendo um grande favor se parar de comprar minhas outras obras. É óbvio que não tenho como controlar isso. Mas espero que você não vá querer comprar uma HQ sabendo que o autor tem desprezo total pela sua pessoa. Espero que isso baste.”

Alan Moore
A DC Comics anunciou o lançamento de “BEFORE WATCHMEN” – uma série de histórias com prólogos da trama principal, focando em alguns de seus personagens mais significativos:  Rorschach e Comediante  terão roteiro de Brian Azzarello e arte de Lee Bermejo e J.G. Jones respectivamente, Minutemen, roteiro e desenhos de Darwyn Cooke,  Coruja, roteiro de J. Michael Straczynski e arte de Andy e Joe Kubert,Ozymandias, roteiro de Len Wein com desenhos de Jae Lee, Dr. Manhattan, roteiro de J. Michael Straczynski e arte de Adam Hughes e Espectral com roteiros de Darwyn Cooke e desenhos de Amanda Conner. Cada edição contará ainda com histórias secundárias de duas páginas de Curse of the Crimson Corsair, (algo como “A Maldição do Corsário Rubro”) com roteiros de Len Wein (o ilustre criador de Monstro do Pântano, diga-se de passagem) e arte do ótimo John Higgins (colorista original de Watchmen).
Esse anúncio gerou grande controvérsia nos meios quadrinhísticos, pois o autor da obra original, Alan Moore, cortou relações com a DC há anos e sempre se mostrou contrário a tudo que se pensou em fazer baseado em sua obra máxima.
Os autores se defendem das críticas alegando que Moore também já usou personagens criados por outras pessoas (o próprio Monstro do Pântano de Len Wein), e isso é uma prática normal e corriqueira nos quadrinhos. Na minha humilde opinião, Moore deveria resolver suas questões judiciais fora da mídia e não gastar essa energia na tentativa de boicote à série. Bem, obviamente Moore não tem o poder de impedir que cada fã que leia Before Watchmen não leia mais nenhuma obra dele, a menos que ele conheça algum feitiço arcano de manipulação mental, o que eu não duvidaria. Mas o fato é que a briga é entre ele e a DC, então deveria deixar os leitores fora disso. As pessoas vão escolher ler aquilo que elas quiserem, e vão gostar dos autores e das histórias que quiserem. E se houver alguém convicto de que realmente é preciso ouvir o apelo de Moore e não leia o prelúdio por causa disso, eu só posso dizer, faça aquilo que acha correto… mas se pergunte se está fazendo pelo motivo certo.
Mas vamos entender melhor o plano geral e os fatos que geraram toda essa discussão.
Antes de mais nada, quero deixar claro que sou um fã incondicional de Alan Moore. Como poderia não ser? Dentro da mídia a qual sou apaixonado, as Histórias em Quadrinhos, não é segredo que ele é um gênio. Escreve roteiros com maestria, leva seu trabalho muito a sério, é extremamente detalhista e minucioso. Suas histórias nunca são obvias, sempre desmontam nosso pensamento e nos surpreende, além de oferecer reflexão sobre os temas abordados, e nos inspirar a aprender mais sobre os assuntos que usa. Alan Moore é admirável quando escreve histórias de terror, aventuras de super-heróis, comédia ou erotismo. Tudo é feito com a precisão cirúrgica de um mestre.
Todos os trabalhos de Moore em quadrinhos se transformam em clássicos automaticamente e nunca passam despercebidos. Mesmo assim, existe um trabalho que fulgura entre as suas maiores criações e apesar da passagem das décadas, continua sendo sua obra máxima. Eu estou falando de WATCHMEN que foi publicada pela DC Comics em 1985, com desenhos de Dave Gibbons e cores de John Higgins.
Watchmen tem sua continuidade própria, independente das outras publicações da editora. Na história, passada também nos anos 80 (embora repleta de flashbacks), a sociedade evoluiu de forma diferente da nossa devido ao surgimento do Dr. Manhattan. Ele era um cientista que sofreu um acidente que o tornou virtualmente indestrutível, capaz de manipular a matéria e fazer praticamente tudo o que quiser, exceto ao que parece, manter sua própria humanidade.
Devido a intervenção do Dr. Manhattan nessa sociedade, a ciência adquiriu novas perspectivas, e atingiu avanços que vão desde a tecidos de moléculas estáveis (que um certo vigilante usaria como máscara), até a carros elétricos e outras soluções não poluentes para o crescimento urbano. Claro que a influência do avanço científico do Dr. Manhattan foi decisiva para que Daniel Dreiberg, o segundo Coruja pudesse desenvolver vários de seus apetrechos tecnológicos, o que inclui uma nave capaz de planar silenciosamente pela cidade. Mas nesse contexto também temos como pano de fundo o medo de um inimigo oculto; a guerra fria era algo vivo no inconsciente coletivo das pessoas que acreditavam que poderiam ser invadidas e atacadas pelos russos a qualquer momento, sendo Dr Manhattan sua maior segurança… desde que ele ainda se importasse… desde que ainda estivesse entre eles. Embora ele seja o único que realmente tenha superpoderes, existem dezenas de outros assim chamados “vigilantes” ou “super-heróis”, que usam trajes de combate, máscaras e contam com treinamento, coragem (e loucura?) para combater o crime.
Watchmen trata, basicamente, do fim dos super-heróis, sua decadência… suas fraquezas e sua humanidade levadas ao limite. E as consequências devastadoras de uma mente brilhante capaz de sacrificar milhares pelo bem de bilhões…
Repleta de referências, é preciso ler Watchmen várias e várias vezes para administrar todas as informações colocadas ali propositalmente pelos autores, e aquelas que acabaram por surgir espontaneamente… como ocorre frequentemente na literatura.
Durante toda a obra, Moore cita várias personalidades, de músicos a poetas, sempre no fim de cada capítulo, cujo título é um fragmento da mesma citação, e ela por sua vez, embora fora de seu contexto original, abrange os eventos relatados na narrativa.
Os personagens de Watchmen, ainda que sejam criação de Moore, foram todos propositalmente baseados nos heróis da Charlton Comics, que deveriam ter sido as estrelas do livro, mas devido a problemas relacionados aos direitos autorais, não puderam ser usados. Assim sendo, Moore adaptou a história utilizando paródias de cada um deles, alterando seus nomes e origens, mas mantendo a essência do que eles representavam.

Os heróis da Charlton Comics
Ele não poderia ter sido mais bem sucedido, e pensando bem, não consigo imaginar essa história sem os personagens tal qual foram apresentados.
Mas Alan Moore se desentendeu ferrenhamente com a DC por conta dos direitos dos personagens… naquela época, quando um escritor criava personagens para a editora, os mesmos automaticamente pertenciam a ela, conforme sempre havia sido até então, inclusive sendo previsto em um contrato que Moore admitiu ter assinado sem ler.  Um dos motivos desse grande desentendimento se dá por conta de que o tal contrato que assinou na época, estipulava que ele e Dave Gibbons teriam os direitos da obra de volta assim que Watchmen ficasse fora de catálogo, mas isso nunca aconteceu… Watchmen sempre vendeu muito e até hoje é o encadernado mais vendido da história… é relançado praticamente todo ano e sempre quebra recordes.
Curiosamente, as histórias de Moore com sua versão do Monstro do Pântano e depois as de Neil Gaiman com seu Sandman impulsionaram a criação do selo Vertigo, com histórias maduras voltadas para um público adulto, e do sistema “Creator-owned” no qual os autores ganharam participação parcial ou total sobre os personagens criados.

Quem vigia Alan Moore?
Quem teve a oportunidade de ler a última edição de “Monstro de Pântano” escrita por Moore, viu o maior tapa na cara que um homem poderia ter dado na empresa. Com argumentos brilhantes, ele desabafou tudo o que sentia e despejou todo o seu descontentamento com a administração vigente naquela época.
Mas mesmo após a mudança de administração da DC, onde foi oferecido a Moore os direitos dos personagens de volta e inclusive feitos vários outros convites, ele continuou irredutível. Existia uma condição de que ele voltasse ao universo de Watchmen, coisa que ele sempre foi contra. O que aconteceu de verdade nunca ficou muito claro, pois Moore já cedeu dezenas de entrevistas acusando a DC de não respeitar seus artistas… basicamente, ao que parece, vale aquele velho conselho: nunca assine contratos sem ler, ou sem orientação de um agente ou advogado.
Recentemente o escritor Chris Robertson, autor de “Izombe” da Vertigo, também cedeu várias entrevistas com o mesmo argumento da falta de respeito de DC com seus contratados e citou até mesmo a publicação de Before Watchmen como um dos motivos principais de seu descontentamento. Ele anunciou que terminaria apenas os projetos que havia iniciado e deixaria a empresa, mas após essas declarações públicas, acabou sendo demitido antes de finalizar suas séries. Estranho ouvir isso de alguém que é dono e tem todos os direitos de seus personagens dentro do selo Vertigo… na entrevista ele não deixa claro o motivo exato de seu descontentamento, não cita nenhum fato específico, apenas as mesmas acusações  genéricas. Então… ele apenas tomou as dores de Moore, se posicionou contra a empresa que trabalha e acabou perdendo o emprego? Eu acredito em lutar por ideais, nunca perder os princípios… mas os argumentos dele não me convencem… não estou defendendo a DC, mas quero entender o que de fato está acontecendo. Ser fã de um artista não significa que vou acreditar e apoiar tudo o que ele disser sem provas ou ao menos um testemunho de algo concreto. Ter consciência de que Alan Moore é um gênio dos quadrinhos não vai me fazer concordar instantaneamente com tudo o que ele diz sem nenhum questionamento.  O barbudinho é humano também, não vamos esquecer esse detalhe…
Conforme amplamente noticiado em vários sites especializados, Jim Lee e Dan Didio estiveram presentes durante o Los Angeles Festival of BooksJim, e Lee falou  sobre a reação negativa de Alan Moore a Before Watchmen:
“Nós não tiramos nada de Alan. Ele assinou um acordo e ainda ele diz: “Eu não li o contrato”. Não posso forçá-lo a ler contratos. Ou seja, tem muita coisa que as pessoas não sabem e Alan falou explicitamente. Tem muitos atenuantes e coisas que merecem análise. Não é tão óbvio e aparente como alguns querem ver… Não estamos usando os personagens sem pagar ao Alan. De tudo que fizemos com Watchmen, das HQs até o filme, mandamos dinheiro para ele. A quantia que lhe era devida, conforme o contrato. Honramos esta parte do acordo. É claro que podemos discutir isso, mas quando se diz que só existe um lado certo, eu não concordo”.
O filme baseado em Watchmen foi totalmente ignorado por Moore, que pediu que seu nome não aparecesse nos créditos e não recebeu nenhum pagamento pelo uso dos personagens, cedendo sua parte para o parceiro Dave Gibbons, que colaborou com o design do filme e em respeito aos fãs, cedeu uma ótima entrevista nos extras do DVD, um verdadeiro presente para os fieis admiradores do seu trabalho, que na verdade são as pessoas que de fato consomem o produto e realmente se importam com Watchmen e tudo que o rodeia. Hoje em dia, Alan Moore mantém relações cortadas com Dave Gibbons. O motivo: ele não ligou agradecendo por ele ter cedido a parte dele do dinheiro no filme. Moore chegou a proclamar  que nunca mais escreveria gibis, depois que nunca escreveria para a DC… quando voltou aos quadrinhos, criou o selo American Best Comics, onde obviamente nos brindou com novas joias para os quadrinhos… Top 10, Tom Strong, A Liga Extraordinária (onde ele mistura e REINVENTA clássicos da literatura… isso sem falar em seu projeto “Lost Girls“, onde narra as aventuras eróticas da Wendy de Peter Pan; Alice do País das Maravilhas e Dorothy do Mágico de Oz),  e etc… o selo ABC foi incorporado à Wildstorm que na época era parte da Image Comics. Nesse período ele trabalhou também no título Wildcats de Jim Lee, numa das melhores, senão a melhor fase do grupo e também escreveu histórias curtas para a personagem Vodu e Majestic (mais um Superman genérico). Ironicamente, a Wildstorm foi vendida para a DC, e de certa forma, ele acabou indiretamente publicando quadrinhos pela editora que jurou nunca mais trabalhar. Hoje em dia ele deixa claro em todos os seus contratos de trabalho que caso escreva uma história para uma editora e eventualmente ela seja comprada pela DC, o contrato deve ser anulado. Isso parece um pouco rancoroso pra vocês?

O Supremo, de Rob Liefeld, teve ótimas histórias escritas por Alan Moore, baseado na mitologia clássica do Superman.
Embora realmente tenha cumprido sua promessa, acabou escrevendo histórias para o Superman de uma forma diferente… usando o personagem “Supremo” de Rob Liefeld… uma cópia escancarada do ultimo filho de Krypton… são histórias fantásticas usando toda a mitologia do Superman, desde o conceito da Supergirl até a Legião dos Super-herois e a fortaleza da Solidão… claro, tudo devidamente alterado e adaptado, da mesma forma que ele fez com os personagens da Charlton para Watchmen. Eu, como fã confesso do Superman, não fiquei ofendido nem revoltado com essa “homenagem”. Não achei que foi uma falta de respeito com todos os autores da Era de Ouro, embora todas as ideias deles tenham sido usadas ali sem nenhuma menção deles nos créditos. Boas histórias sempre são bem vindas.

Agora a DC está lançando “Before Watchmen”… e apesar deles terem o direito de fazer uma continuação e até mesmo lançar novas versões ou REINVENTAR a mesma, não fizeram isso… preferiram lançar histórias com eventos anteriores à série principal, mostrando aos leitores a história pregressa e nunca contada dos mesmos. Não vejo motivo para tanto alarde sobre isso… Prelúdios não são novidade na cultura pop, mas geralmente criam essa polêmica… afinal, por que retornar a universos já em tese fechados e bem resolvidos? Por que George Lucas fez o prelúdio de sua Guerra nas Estrelas? Por que o seriado televisivo Smallville preferiu contar a adolescência de Clark Kent em vez de mostrar as aventuras do Superman? E, voltando aos quadrinhos, por que Frank Miller teve a ousadia de fazer uma CONTINUAÇÃO do seu Cavaleiro das Trevas? Cavaleiro das Trevas é monumental, Watchmen é monumental, nenhum prólogo ou poslúdio pode mudar isso. Então por que isso incomoda tanto? Eu não sou fã da nova trilogia de Star Wars, mas gosto muito do terceiro filme que mostra a transformação de Anakin em Darth Vader… achei acertada a inclusão do personagem Dath Maul e algumas outras ótimas cenas envolvendo Obi Wan e Yoda. Mas isso não muda em nada o fascínio que continuo tendo pela trilogia original.
Smallville durou muito mais do que deveria. Esse esticamento da série a jogou em situações que beiravam o ridículo. Mas as três primeiras temporadas foram muito boas e merecem crédito. De certa forma, influenciou o resgate de alguns elementos clássicos, como a convivência de Clark e Lex em Smallville… a amizade que se tornou uma relação de ódio profundo. O desenvolvimento de Lionel Luthor, que roubou a cena e se tornou um vilão de primeira… considerando que antes ele foi explorado muito pobremente nos quadrinhos. E a inclusão da personagem Chloe Sullivan, criada especialmente para a série e que cativou muitos fãs, sendo depois inserida nos quadrinhos.

Batman: O Cavaleiro das Trevas
Já sobre Frank Miller, a polêmica foi talvez maior, porque ele não fez um prelúdio… em vez disso ele seguiu a diante. Primeiro ponto positivo: a coragem. Afinal, mesmo que a nova trilogia de Star Wars tenha tido seus bons momentos, o que eu queria mesmo ter visto era George Lucas levando a história para um novo patamar… uma nova geração de Jedis, as consequências diretas dos esforços de Luke Skywalker. Frank Miller foi ousado no sentido de seguir em frente, mas sua abordagem foi totalmente inesperada e nem sempre no melhor sentido. A principio me pareceu um grande deboche à indústria, da exploração da imagem da mulher, ao apelo sexual e a violência excessiva deflagrada principalmente pelos maus imitadores dele e de Watchmen. Analisando bem, não tenho certeza se foi exatamente isso ou na verdade uma grande ironia de Miller com todos os leitores que consomem qualquer porcaria que lhes é despejada pela garganta… seu traço está desleixado e exagerado, as cores, super vivas e vibrantes… existe revolta ali, mas contra quem? Contra o que?

"Cavaleiro das Trevas 2"
No mais, gosto da história de Cavaleiro das Trevas 2, mas odeio o que ele fez com Dick Grayson. Transformar o garoto num mini psicopata alterado geneticamente por um suposto envolvimento homossexual mal resolvido entre eles foi um grande tiro no pé; foi como dizer que o Doutor Fredric Wertham autor do livro “Sedução do Inocente” estava certo em suas teses equivocadas… uma verdadeira crítica a esse e outros assuntos foi conduzida muito bem por Rick Veitch em sua obra Brat Pack, em que mostra mais ou menos a mesma coisa, só que em outro contexto e muito melhor explorado. (Brad Pack saiu bem antes de Cavaleiro das Trevas 2). A meu ver foi o começo de um declínio criativo (salvo algumas exceções) em tudo que Frank Miller produziu depois. Hoje em dia ele segue o caminho oposto de Alan “não quero royalties desse filme” Moore. Ele parece escrever quadrinhos já pensando na franquia cinematográfica… num efeito “Mark Millar” (autor que já conseguiu projetar várias de suas obras para os cinemas, como “Kick Ass, “O Procurado” e está sempre em negociação com alguma coisa do seu “Millarverso”) Eu acredito que possa existir harmonia entre bons quadrinhos e suas adaptações cinematográficas (a MARVEL tem sido responsável por vários bons momentos de seus personagens no cinema) mas transformar isso em processo de produção em massa gera um efeito que a longo prazo só tem perdido em qualidade do material. Quadrinhos bons são aqueles que são encarados como arte… não são poemas, não são livros… são outra coisa, mas são arte. E a motivação para criar algo realmente belo vem de outros lugares, não do interesse mesquinho de obter lucro rápido. Quem trabalha com arte sabe do que falo; claro que todos temos nossas contas pra pagar, mas o dinheiro é consequência, não motivação.
Cavaleiro das Trevas 2.  Smallville e nova trilogia de Star Wars… precisavam ter existido? Talvez não, mas a pergunta certa é: com que finalidade foram feitas?
E quanto a Before Watchmen? É claro que isso só poderá ser julgado corretamente após o lançamento do mesmo. Existem grandes autores envolvidos, pessoas que já provaram seu comprometimento com a história, reconhecem a responsabilidade e a necessidade de respeitar o material original. Alguns podem afirmar que só o fato de aceitarem trabalhar nesse projeto já é um desrespeito. E todos têm direito a ter a sua opinião. Eu me pergunto se na época do lançamento de Watchmen, alguém tenha pensado que talvez isso não fosse um desrespeito com os personagens da Charlton. Se talvez alguém tenha perguntado, antes de ler Watchmen, se era mesmo necessário que ele fosse feito. Pessoalmente, após ler Watchmen, a única coisa que me ocorre é: “ainda bem que foi feito”.  E se ele tivesse desrespeitado ou manchado de alguma forma os heróis da Charlton? Bem eu apenas ignoraria Watchmen, e me apegaria a velhas edições de Besouro Azul, Capitão Atomo e Questão… e me deliciaria com suas incríveis histórias.
Porque antes que me esqueça, é pra isso que elas foram feitas.