Prelúdio sobre os Novos deuses:
Voltando
aos primórdios, Jack Kirby deixou a Marvel e foi trabalhar na DC.
Asgard, o lar dos velhos deuses foi consumida por uma guerra
irrefreável. Então, dos espólios dessa contenda cósmica, nasceram os
Novos deuses.
Essa
versão não é exatamente a oficial, mas retrata com fidelidade o
simbolismo que houve na época da troca das editoras. Os Novos deuses de
Jack Kirby, escritos, desenhados e EDITADOS por ele, duraram apenas onze
números. As vendas não eram boas. Não era pra um ser um mero gibi de
bancas. Era algo para entrar na história dos quadrinhos.
Junto
com Novos deuses, Kirby também produziu “Senhor Milagre” e “O Povo da
Eternidade” Juntas, essas obras formam o que tempos depois ficaria
imortalizado como o “Quarto Mundo de Jack Kirby”.
E
foi justamente nessas histórias, que ele deixou seu maior legado para a
DC Comics… não um herói, nem de longe o melhor e mais inspirador dos
heróis, afinal, ela já tinha Superman. Era um vilão. O pior e mais
diabólico todos: Darkseid.
E junto com Darkseid, fomos apresentados a “Equação Antivida”.
Esse pequeno prelúdio foi apenas uma preparação para falar do assunto que realmente quero tocar, a clássica minissérie “Odisseia Cósmica”, de Jim Starlin e Mike Mignola , onde mais uma vez os Novos deuses são revisitados. Voltam para a Fonte.
Mas quem bebeu dessa fonte foi o escritor Jim Starlin. Famoso por suas
histórias espaciais e também por ter sido a mente por trás da memorável
“Morte em Família”, onde Jason Todd, o segundo Robin é assassinado pelo
Coringa. (Tudo bem que ele ressuscitou anos depois, mas por um longo
tempo essa história teve um peso sobre toda a trajetória seguinte do
homem morcego, sem contar no impacto que causou na época).
Mike Mignola? Você sabe; artista fantástico, criador do Hellboy, personagem de grande sucesso da Dark Horse.
Mas, voltando à Odisseia, temos aqui uma legítima HQ de super-heróis que
honra a memória do velho Kirby, e vale ter guardada na estante. Alguns
dos acontecimentos ecoam no universo DC até hoje, como o fato do planeta
Xanshi ter sido totalmente destruído devido a arrogância do Lanterna
Verde John Stewart e as sequelas emocionais que isso lhe causou.
Essa versão tem uma interpretação própria de Jim Starlin sobre a
Antivida. Em sua visão, a mesma trata-se de um ser de poder absoluto que
vive às margens da realidade; ele teria sido criado pela mesma guerra
que destruiu o mundo dos velhos deuses, subsequentemente dando origem a
Nova Gênese e Apokolips, lar de Darkseid.
A história tem uma premissa simples: Metron dos Novos deuses, com sua
fome insaciável de conhecimento, encontra uma forma de entrar em contato
com a Antivida, mas é surpreendido por sua aparente onipotência e
consegue escapar dela por pouco, porém com sua mente terrivelmente
danificada. O problema é que ao escapar, ele abriu uma brecha nas
dimensões, possibilitando a Antivida a enviar quatro espectros para a
nossa realidade. Darkseid resgata Metron e o leva para Nova Gênese,
formando uma aliança improvável com os Novos deuses, pois eles descobrem
que esses quatro espectros pretendem aniquilar quatro sistema estelares
específicos, e conforme explica Darkseid: “A gravidade é o cimento que
mantém todas as coisas coesas, inclusive as galáxias. A via láctea é uma
joia de equilíbrio precário, milhões de estrelas interlaçadas e
interdependentes. Dos quatro sistemas estelares na tela… destrua dois
deles e a via láctea irá ruir sobre si mesma”.
A destruição total possibilitaria então a livre entrada da Antivida na nossa realidade.
Para impedir essa tragédia, foram convocados os heróis da Terra e de
outros planetas para impedir a ação dos espectros e salvar o universo.
Os escolhidos foram J´onn J´onzz, Estelar, Lanterna Verde (Stewart),
Superman, Batman e Jason Blood, hospedeiro do demônio Etrigan (Outro
legado maldito de Kirby para a DC). Além disso eles tiveram apoio direto
dos Novos deuses Órion, Lightray (estranhamente batizado no Brasil como
“Magtron”), Forrageador e o aventureiro estelar Adam Strange.
Apesar da já citada premissa simples, a história prende. Jim Starlin estava em plena forma,
os diálogos podem não ser geniais, mas convencem. E a arte de Mignola
dá o toque sombrio que ela precisava. Temos alguns momentos tensos, como
o sacrifício de Jason Blood ao aceitar se unir novamente a Etrigan, o
duelo moral de Superman e Órion e a dinâmica bem construída entre Batman
e Forrageador, que morre para salvar a Terra, e mesmo sendo um
personagem praticamente desconhecido, causa impacto com sua partida.
Mesmo
fugindo do conceito original de Kirby para a Antivida, essa minissérie
merece todos os créditos por ser uma aventura divertida e bem feita,
diferente de alguns recentes trabalhos de Jim Starlin com os Novos
deuses, que deixaram tudo a desejar. Esse conceito de que a Antivida
seria uma forma de controle mental em massa, foi resgatada por Grant
Morrison em sua “Crise Final”, que em sua essência nada mais é do que uma releitura da obra de Jack Kirby. Um retorno à Fonte.
Odisséia Cósmica, foi republicada pela Panini em um encadernado, contendo alguns extras.
Vale a pena reler sem compromisso e sem culpa. Está na minha lista de clássicos preferidos dos anos 80.
Nota: 9
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