sábado, 6 de outubro de 2012

Vamos falar de Cinema Trash

Um dos gêneros mais incompreendidos da 7ª Arte, o Cinema Trash já revelou muito cineasta de calibre e diverte cinéfilos pelo mundo há muito tempo
                   
A grande maioria odeia. Uma pequena parte enaltece. O cinema trash sempre foi encarado dessa forma. Talvez porque o próprio gênero se chame de ‘’lixo’’ ou ‘’porcaria’’. Eu prefiro achar que o gênero é mal compreendido, pois sou um dos poucos cinéfilos que vê algum valor nas produções trash por aí.
Ainda é muito difícil definir o gênero, mas há quem diga que os filmes trash são produções mal feitas propositalmente. Outros acreditam que para um filme ser chamado de trash ele deve se levar a sério, mas a qualidade discutível faz com que o rótulo caia como uma luva. A minha teoria é diferente… Para mim, um filme trash nada mais é do que uma tentativa de divertir ou entreter o espectador provocando um choque. Seja com bizarrices, sangue jorrando ou atuações ridículas.
Se você passou a conhecer o gênero só agora, é bem possível que já tenha assistido a algum filme considerado trash sem ter conhecimento, e por conta disso, o julgado como uma verdadeira porcaria. E essa é a grande discussão desse gênero. Às vezes, um filme que é muito ruim passa a ser considerado bom porque entra na categoria dos filmes trash, onde o filme é livre para ser ruim, ou melhor, tem a missão de ser ruim. Ainda confuso? Vamos aos exemplos.
É impossível falar de cinema trash sem citar Sam Raimi. Sim, o diretor dos três primeiros filmes do Homem Aranha é um grande nome desse gênero bizarro. Talvez o mais famoso filme trash de todos os tempos seja The Evil Dead, ou como conhecemos, A Morte do Demônio, de 1981. No filme, um grupo de jovens se depara com uma espécie de livro dos mortos, que está simplesmente encadernado em pele humana e escrito em sangue. Daí em diante o filme vira um show de possessões, sangue e mortes. Acredito que não há um fã de cinema trash que não tenha visto The Evil Dead.
Poucos sabem disso, mas o cinema trash foi berço de inúmeros cineastas de sucesso, assim como Sam Raimi. Você já ouviu falar da trilogia Senhor dos Anéis? Pois é. Peter Jackson, antes de comandar pequenos hobbits pela floresta, já fazia trasheiras, e das ‘’boas’’. Um filme chamado Braindead, ou no Brasil, Fome Animal (1992), é outro indispensável no repertório do fã da boa trasheira. Só para ilustrar, no filme foram usados quase mil litros de sangue de porco, sendo que um quarto disso foi destinado apenas para uma cena. Obviamente, essa cena entrou para o ‘’hall da fama’’ dos filmes trash. Envolve um cortador de grama… Acho que você deveria ir atrás para conferir.
Podemos citar inúmeros outros grandes nomes desse gênero. Dando destaque para produções clássicas temos o aclamado Ed Wood, com Plano 9 do Espaço Sideral. Filme que começou a chocar o público já nos anos 50. Atualmente temos, por exemplo, Robert Rodriguez, diretor do filme Machete (2010).
                 
 E não é que tem brazuca no meio? O pouco valorizado e mal interpretado José Mojica Marins, ou como todos o conhecem, Zé do Caixão, não é só o maior expoente desse gênero no Brasil, como é um dos maiores do mundo ainda em atividade. Costumo dizer sempre que antes de George Romero (aquele dos zumbis…) pensar em filmar, Zé do Caixão já produzia seus filmes trash sem apoio ou patrocínio de ninguém lá no começo dos anos 60. Sua trilogia clássica composta por ‘’À Meia Noite Levarei Sua Alma’’, ‘’Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver’’ e ‘’Reencarnação do Demônio’’ é o que o mantém como um dos maiores diretores vivos do gênero. Esse último foi realizado em 2008, e contou com um orçamento de quase dois milhões de reais, o que proporcionou a José Mojica a chance de fazer toda aquela trasheira que um dia certamente havia sonhado. Cenas memoráveis como a da mulher comendo a sua própria nádega ilustram um pouco da honestidade e da crueza das cenas de sua filmografia.
Cientes de tudo isso, é possível que a sua percepção a respeito do gênero trash tenha mudado. Ou não também. Aliás, é por isso que o cinema é tão sensacional. O que pode ser uma porcaria sem tamanho para você, pode significar para mim ou para o seu amigo, uma obra de grande importância.
Tudo está na forma como encaramos os filmes. Tudo é arte. Cabe a nós separarmos da melhor maneira. Viva o cinema trash!
Matéria publicada na revista super meg

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