sexta-feira, 1 de junho de 2012

Branca de Neve e o Caçador-Crítica


Entre 1812 e 1822 uma fábula compilada pelos famosos Irmãos Grimm, responsáveis por grande parte dos contos de fadas que conhecemos até hoje, protagonizada por uma garota de “cabelos negros como ébano, lábios vermelhos como sangue e pele alva como a neve” foi publicada. Surgia uma das primeiras menções a história de “Branca de Neve“. Com versões que variam de acordo com o país, a intenção ou oralidade, a origem do conto é controversa, sendo a interpretação dos Irmãos a mais conhecida e divulgada. Acompanhando essa variabilidade, suas adaptações para o cinema – que são realizadas desde 1902 – também contém particularidades, embora não tantas quanto as do longa de Rupert Sanders, o aventureiro “Branca de Neve e o Caçador”.
Nesta nova variante, Branca de Neve é feita refém por sua madrasta durante anos e, quando consegue escapar, é perseguida pelo caçador Eric, contratado pela Rainha Ravenna para encontrá-la. Contudo, após descobrir os motivos da fuga e reais intenções da rainha quanto à prisioneira, o honrado homem passa a auxiliá-la em sua fuga, iniciando uma jornada que envolve perigos, batalhas e seres mágicos. Seguindo essa premissa, a produção dirigida por Sanders difere extremamente do clássico conto, abandonando certas passagens da trama original enquanto abrange situações que visam tornar sua protagonista um pouco mais contemporânea, algo que seria genial se não falhasse categoricamente.
O principal motivo da ineficácia do filme é seu roteiro, responsável pela ridicularização de grande parte do elenco e ausência de momentos épicos que, embora não sejam estritamente necessários, são insinuados no decorrer de toda a narrativa.
O texto trabalhado por Evan Daugherty, John Lee Hancock e Hossein Amini além de abusar dos clichés habituais em filmes de aventura onde o papel feminino “deve” ser destaque – alterando completamente a história clássica envolvendo a maçã e incluindo uma rebelde princesa em busca de vingança que emana esperança motivando uma rebelião -, procura trabalhar uma dramaticidade extremamente sobeja em cenas onde ela seria perfeitamente descartável. Por exemplo, é compreensível que a vilã deve ser obsessiva e incontida, mas a busca por exibir emoção em cada take é tão cansativa e exacerbada que consegue reduzir a presença singular de Charlize Theron à uma persona digna de um dramalhão mexicano. Fora isso, o caráter dos outros personagens é inconstante, ao ponto de uma mesma figura hora mostrar-se honrada, hora desvirtuar-se completamente daquilo à que se propôs, hesitação que prejudica, sobretudo, a imagem do caçador, interpretado pelo duvidoso Chris Hemsworth.
Enquanto há exagero na formação destes personagens, o que dificulta qualquer identificação com a protagonista, entregue à desacreditada e nem sempre incompetente Kristen Stewart, é justamente a falta de vivacidade e atenção cedida à sua Branca de Neve. Com um desenvolvimento leviano e polido, aquele que deveria ser o ingrediente essencial para os momentos de aventura no filme, funciona de modo oposto, emitindo fragilidade e descrença toda vez que precisamos contar com algum heroísmo em cena.
Mas “Branca de Neve e o Caçador” não é moldado somente com erros, visto que todos os quesitos visuais do filme são estupendos. Seja a parte de arte, a concepção dos cenários, a animação dos seres criados em conjunto aos efeitos especiais, o figurino – que capta melhor a personalidade dos personagens do que os próprios atores – ou mesmo a maquiagem, tudo é uma grata surpresa, contando com atrativos dignos de admiração.
Fora isso, poder conferir a incrível interação entre os anões interpretados por Ian McShane, Eddie Izzard, Bob Hoskins, Toby Jones, Eddie Marsan, Ray Winstone e Nick Frost é sensacional. Cabe à pequena participação destes grandes atores os melhores momentos da projeção, os poucos que geram alguma satisfação.
Dito isso, é triste constatar que o filme seja construído com base em extremos, percebido que os atributos que o prejudicam, o tornam praticamente insuportável; mas os que o qualificam, fazem a experiência de presenciá-los algo prazeroso. Cabe ao espectador balancear se vale à pena tentar bloquear uma experiência vergonhosa para testemunhar outra magnífica; se deve estar à mercê de algo embaraçoso para arriscar maravilhar-se com algo visualmente soberbo – característica que, com as possibilidades atuais, não devia ser eventual.

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