Eu podia usar um daqueles clichês bobos, e dizer que ontem o mundo do cinema amanheceu mais triste com a perda desse grande (literalmente também) ator. Mas, redundantemente, seria um clichê e, pior do que isso, seria uma mentira. Porque a impressão que eu tenho é que Hollywood e seu cinema cagavam para Michael Clarke Duncan e seu talento. Mas calma, vamos à notícia primeiro, apesar de que você já deve estar sabendo. O ator Michael Clarke Duncan, indicado ao Oscar por sua interpretação do condenado John Coffey em À espera de um milagre, morreu ontem, dia 03 de setembro, das consequências de um ataque cardíaco sofrido em julho deste ano.
Como eu dizia, em seu primeiro grande trabalho, o talento de Duncan lhe valeu uma merecida indicação ao Oscar. Entretanto, ao contrário de tantos outros atores em começo de estrelato, a indicação (que não se converteu em premiação) não abriu as portas do “grande” cinema a Duncan – apesar dele ter participado de filmes de alto investimento financeiro (como a Ilha, Planeta dos Macacos ou Armageddon), nenhum de seus outros trabalhos se deu em filmes memoráveis, fazendo de Clarke Duncan um excelente ator em filmes medíocres, comoDemolidor, por exemplo.
A carreira de Duncan nem seguiu a galhofagem total do modelo Samuel L. Jackson, nem a escola “sou um ator foda, por isso faço até filmes não tão bons” de Morgan Freeman, por exemplo. Do contrário, a carreira de Duncan revela um ator bom, mas relegado ao escanteio, ao papel boboca do brutamontes, quase sempre burro (O Cavaleiro e o Dragão; Sin City, Chun-li…), mesmo que seu primeiro grande trabalho e os outros tantos de dublagem que se seguiram (Lanterna Verde, o jogo God of War, Kung Fu Panda) gritassem que ele era mais do que isso.
Talvez Hollywood não saiba sair do estereótipo de que um negro gigantesco e com cara de mau pode ser outra coisa senão o grandalhão porradeiro. Ou do pretinho piadista e trapaceiro. Talvez. Pelo sim e pelo não, com seu jeito abrutalhado mas inteligente e competente, Michael Clarke Duncan foi uma possibilidade de se quebrar esses estereótipos, e morreu subaproveitado.
Uma pena. Pode demorar para aparecer outro com as mesmas qualidades…
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