quarta-feira, 6 de junho de 2012

Pedofilia: Porque não podemos nós calar



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Esta semana conheci a série em quadrinhos “Clarissa”. A história é de autoria de Jason Yungbluth, um artista da versão Americana da revista Mad e dono do site Deep Fried, onde publica e vende todos os seus trabalhos.

Pois é.


Mas voltemos a Clarissa. O autor produz a série desde 1999 e até o momento, existem cinco histórias curtas com a personagem. Aparentemente, é um projeto que ele coloca no papel quando está com tempo livre e pelo que vi, Yungbluth tem muito pouco disso.

Para quem está se perguntando sobre do que a série se trata, é simples: Clarissa é uma menina de seis anos que sofre abuso sexual nas mãos do pai como você pode conferir abaixo:


Cada história mostra um momento diferente no dia-a-dia da menina. A primeira (“Clarissa estraga o Dia de Ação de Graças”) vai direto ao ponto, mostra a família celebrando o feriado como se fossem personagens perpetuamente felizes de uma comédia americana da década de 1980.

Clarissa quebra toda a comemoração ao dizer sem papas na língua: “não vou fingir que o papai não abusou de mim.”

Apesar do desconforto, acredito que esta história tinha por intenção trazer apenas uma dose de humor negro. O autor deve ter gostado da personagem e decidiu então criar enredos mais sólidos e dolorosos para ela.

A segunda história, mais dura e impactante ainda (“Retrato de Família”) mostra a menina fazendo um desenho de sua família para a aula de arte da escola. A imagem que ela faz é a de um café da manhã perfeito e alegre, mas ao longo da história, vemos como as coisas realmente aconteceram.

Clarissa não desce para tomar café até seu pai sair para o trabalho. Quando finalmente senta a mesa, podemos ver o quanto sua família é desajustada, mas duramente real. TODOS sabem o que acontece, mas cada um reage aos abusos de sua forma.

A mãe de Clarissa está em completa negação, eternamente com um sorriso no rosto. Ela prepara quilos de torradas para sua família, como uma forma de super compensação pela desgraça em que todos vivem. Ela também tira um segundo de seu dia para jogar na cara da filha que ela é a culpada pelo que acontece (“Lembra-se do que lemos naquela revista? Você é uma instigadora.”), algo que será mencionado novamente no futuro.

O irmão mais velho é um bully completo e tortura Clarissa o quanto pode. Ele afoga as torradas da irmã em calda, mesmo após a menina protestar que não gosta disso. Depois, ele ainda intimida a menina (“Se não gostou, chore pra porra do mundo inteiro te ouvir.”), o que prontamente a condiciona a acreditar que mesmo se gritar por socorro, ninguém jamais a ouvirá. A impressão que tenho é que ele optou por ficar do lado do pai e também culpa a irmã pelos abusos que ela sofre. Afinal, “se não fosse por ela”, eles poderiam ter uma vida normal.

O irmão do meio é uma pilha de nervos e parece estar em negação ainda maior que a mãe, desesperado para que todos ao seu redor mantenham a ilusão de que nada acontece à noite.

A situação fica mais assustadora subitamente, quando o pai volta para apanhar “sua caneta” e decide sentar-se para tomar café. Quando percebe a frieza com o qual a filha o recebe, ele sugere que “ela deixe o que aconteceu pra trás, para que tudo volte ao normal” e a menina prontamente aceita, após sofrer pressão silenciosa de toda a família.

Mas a mera presença do pai faz tanto mal à Clarissa, que ela fica enjoada. Então temos uma das cenas mais aterrorizantes que já vi em uma história em quadrinhos. e tão brutal, que não tenho palavras para descreve-la, seque o quadrinho abaixo:

Sim, foi isso mesmo amigo leitor, uma menina de seis anos decidiu comer o próprio vômito para não irritar o pai.

O pior é que este ato desesperado não deu certo e agora ela sabe que vai pagar por isso. O que quer que ele faça com ela a noite será dez vezes pior do que aquilo que tinha planejado antes.

Na escola, Clarissa não só desenhou sua família, como também fez a imagem de um lobo atacando um esquilo...


... cujo real sentido foi prontamente ignorado pela professora, que estava mais interessada em ouvir a própria voz do que entender o pedido de ajuda de sua aluna.

Existem três outras histórias completas de Clarissa, cada uma delas acrescenta uma nova camada de tragédia à vida da menina. Não pretendo falar delas, mas todas podem ser lidas neste link. É só descer e clicar nas páginas uma por uma.

Duas coisas tornam esta série tão difícil de ser lida. Primeiro, a narrativa de Yungbluth é fantástica, ele libera poucas informações e em pequenas doses, no fim, quando ligamos todos os pontos e entendemos o que aconteceu, o resultado é horror absoluto.

Segundo, a série não segura nenhum soco. Todo filme sobre abuso infantil que assisti evitava exibir a parte mais cruel da história, o que normalmente vemos é uma protagonista traumatizada, que graças à presença de boas pessoas em sua vida, consegue deixar seu passado para trás e acertar sua vida.

Clarissa não tem esta opção. Ela tem de viver um Inferno na Terra diariamente.

Eu juro, estou de coração partido desde que li essa história. Estou deprimido há alguns dias já e não consigo parar de pensar a respeito

O que mais dói é saber que existem milhares de “Clarissas” pelo mundo. Que sofrem em silêncio e todos os dias se culpam por passarem por algo sobre o qual não tem controle.


Como homem,  não me desce a idéia de que um Pai possa abusar sexualmente de sua própria filha, é algo que minha cabeça não consegue processar. Sua criança é a ÚNICA pessoa do mundo que você tem a obrigação de proteger, como pode alguém submetê-la a algo tão terrível?

E crianças não têm como se defender, é aí que NÓS adultos devemos entrar.

Se algum de vocês acha que conhece uma criança que possa sofrer abuso sexual, há formas de tentar descobrir se a suspeita tem base ou não.

O importante é prestar atenção as crianças, elas não podem comunicar verbalmente e de forma clara o que aconteceu, pois não tem compreensão do que é o abuso sexual. Elas exteriorizarão o que sentem através das suas brincadeiras e de desenhos (como Clarissa tentou fazer), especialmente em momentos que estejam sozinhas.

Marcas pelo corpo também são um sinal de que algo está errado. É muito difícil um adulto não machucar uma criança quando a força a fazer sexo com ele. Hematomas constantes, sempre nos mesmos lugares também podem ser um sinal de que algo está acontecendo.

E o comportamento da criança muda, ela pode se isolar, demonstrar medo de adultos de um sexo específico ou até mesmo agirem com uma sexualidade exagerada para sua idade.

Então eu repito, PRESTEM ATENÇÃO AS CRIANÇAS, pois só é possível notar tudo isso quando se observa com atenção. Os adultos muitas vezes criam um hábito em ignorar seus filhotes e sinceramente, não consigo ver bem algum vindo disso.

Se perceber todos estes sinais e sentir que de fato há algo errado, vem a parte que muitos temem: DENUNCIE!!!

Quando pesquisava pra escrever este artigo, percebi que um número grande de pessoas tem receio de se envolver, seja por medo de uma represália por parte daquele que abusa, ou seja, lá pelo que for. Saibam que ao fazerem uma denúncia, vocês sempre ficarão anônimos. No máximo, somente a pessoa que o atendeu saberá quem você é, e se entrou em contato por telefone, nem isso será um problema.

Quanto à parte das represálias, se você coloca o seu bem estar acima do de uma criança que pode estar sofrendo violência sexual diariamente, você é um merda muito pouco melhor que o canalha que está se aproveitando dela.

É possível fazer a denúncia através da própria Internet, no Conselho Tutelar, nas Varas da Infância e da Juventude, em Delegacias de Proteção da Criança e do Adolescente ou mesmo nas Delegacias da Mulher, mesmo que de forma anônima.

Não faltam opções, então, por favor, faça alguma coisa se puder. Não permita que esse tipo de história de horror se estique por mais tempo que deve.


Sei que deve ter sido difícil ler este artigo, acreditem, foi muito difícil publicalo. Cada palavra lida  me doía e chorei muito  imaginando a dor e o sofrimento dessa criança.

Não vou fazer nenhuma declaração piegas ou dizer alguma frase pronta como “devemos proteger as crianças, pois nelas reside o futuro”, não, nada disso. Minhas motivações são muito mais simples.

Eu tive uma infância muito boa. Li gibis, assisti filmes e desenhos, joguei video games, criei sagas imensas e macarrônicas com meus bonecos, estudei, trabalhei , brinquei com meus amigos e tudo mais.

Isso é o mínimo que uma criança deve ter.

Toda criança tem o direito de crescer em um ambiente saudável e aproveitar os primeiros anos de sua vida. Não é justo que um animal venha e simplesmente tome isso dela.

Não sei bem como encerrar este artigo, então vou apenas pedir para você pensar em uma criança com quem convive e a quem ama. Seja uma filha, um sobrinho, irmão, irmã que for.

Imagine que esta criança poderia ser uma “Clarissa”.

...

Não parece mais tão difícil encontrar motivação pra querer protegê-la, não?


Para denunciar é simples. Basta ligar para o número 100 gratuitamente e registrar o acontecimento. O serviço funciona 24 horas, inclusive aos finais de semana e feriados. As denúncias também podem ser feitas pelo site www.disque100.gov.br ou pelo endereço eletrônico disquedenuncia@sedh.gov.br e, em todos os casos, podem ser anônimas. O importante, segundo Pinheiro, é fornecer o máximo de informação possível para que as autoridades possam chegar até a criança e/ou adolescente violentado. 

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