Pois bem, nerds amaldiçoados… 50 anos de James Bond e o novo filme com a assinatura de um diretor extremamente gabaritado, Sam Mendes (de Beleza Americana, Estrada Para Perdição, Soldado Anônimo…) e muitas notícias de que talvez teríamos um filme do 007 subindo de nível e quem sabe até podendo ir pra briga do Oscar nas principais categorias… Será que é tudo isso mesmo?
Bem, já os alerto que, apesar de Operação Skyfall ser um bom filme, não está gabaritado pra o que muitos alardeavam antes do seu lançamento… Sam Mendes até impõe o seu estilorefinado ao filme (a bela abertura de lisergia embaixo dágua que nos apresenta os delírios de um James Bond às portas da morte é uma delas…) mas ele parece se não perdido, mas um pouco indeciso com o que fazer com o filme.
A trama é das mais simples, um antigo agente do MI6, uma espécie de James Bond do passado, foi “traído” pela própria agência, depois de comprometer uma missão é usado como moeda de troca com os inimigos…
Depois de se livrar do seu cativeiro, jura vingança, se torna um agente independente e monta um plano mirabolante pra se vingar de quem ele acreditava que nunca iria lhe prejudicar, a M (Judi Dench).
Esse é o pano de fundo pra um jogo de gato e rato entre o personagem de Javier Bardem, que se usa dos novos meios da espionagem moderna (manipulação de informações e hackeamento de computadores) e o 007 brucutu de Daniel Craig, que ainda resolve as coisas do modo antigo, na bala.
Até aí nada de novo, pois esses elementos já apareceram antes na franquia, esse discurso de colocar em xeque a utilidade de um agente secreto da divisão 00 no mundo moderno já foi discutido nos filmes estrelados por Pierce Brosnan… Também já vimos um algoz similar ao personagem de Javier Bardem, interpretado por Sean Bean em Goldeneye (e até com motivações parecidas).
Mas até que Sam Mendes se garante muito bem, trabalhando com conceitos batidos nesse filme, compensando o filme com sua direção primorosa e pegando esses antagonismos e transformando isso no mote primário do filme… O primeiro encontro entre Bond e o vilão Silva mostra bem isso, com o bandido explicando (de forma metafórica inicialmente) o papel dos dois naquele filme.
Javier Bardem está muito bem no filme, faz um vilão afetado, que usa de todas as artimanhas para desconcertar o seu inimigo, e isso inclui até mesmo lhe dar uma cantada… HAEUAHEUAEHAUEHAE. Silva (ou Tiago Rodriguez) é um 007 do mal, que está sempre um passo à frente do seu inimigo, exatamente como Bond nos seus filmes, usando de recursos modernos e de um plano milimetricamente planejado pra conseguir fazer o que quer (no caso, matar a M), e cabe ao bond protegê-la de um inimigo tão bem preparado como ele próprio.
Acho que Sam Mendes perdeu a grande oportunidade de fazer um filme diferente quando optou por mostrar um James Bond incorruptível e que nunca chega a duvidar das reais intenções da M, mesmo quando no início do filme ele é praticamente “morto” por uma ordem expressa dela… Acredito que se o diretor ampliasse esse clima de dúvida, ganharia muito emtensão emocional e conseguiria um “up” interessante na história, insinuando que Bond pudesse em algum momento acreditar que assim como Silva (que um dia foi o agente preferido de M) ele mesmo poderia ser descartado pela sua chefe em favor de um “benefício maior” à coroa britânica…
Isso certamente acirraria a antítese entre Bond e o Vilão a um ponto em que Bond pudessese ver no bandido como um possível futuro pra ele próprio, como a teoria que diz que quando duas cosias são tão contrárias elas podem “dar a volta” acabar ficando próximas.
Mas isso não acontece, o filme segue cartesianamente a tradição dos outros 007, e inclusive faz referências á filmes clássicos, como na parte em que bond caminha sobre um dragão de comodo com a mesma eficiência em que Roger Moore corria por cina de crocodilos… Ou ainda quando Craig usa o carro de Sean Connery, e ainda ameaça ejetar M do seu Aston Martin.
O filme de Mendes parece “brigar” com isso, se de um lado ele mesmo disse que se inspirou no estilo “realistico” de Christopher Nolan ao abordar temas fantásticos (como Batman e A Origem) por outro lado o filme apresenta coisas que remete o tempo todo ao “passado glorioso” de James Bond, como os cenários exuberantes e irreais, sequências vertiginosas e exageradas de ação, vilões megalomaníacos e com deformidades físicas…
Ah, e se as referências aos antigos 007 estão presentes, podemos ver também asreferências ao Nolan também, a ilha em que Silva tem seu QG é praticamente a cidade devastada dos sonhos de Cobb em A Origem, também descobrimos que James bond ficou órfão quando criança, tinha sua “mansão Wayne” e se “tornou homem” quando passou dias dentro de sua própria “batcaverna” (um túnel subterrâneo sob a propriedade de sua família)… Ah, James Bond também tem o seu próprio Alfred nesse filme.
As cenas de ação estão muito boas, destaque pra perseguição terminando no trem, do início do filme, e a belíssima cena de luta entre Bond e um assassino em Xangai, toda filmada em contraplano usando a luminosidade quase psicodélica da cidade como pano de fundo… E se os boatos também diziam que o diretor optou por tirar a ação do filme pra dar mais corpo pra história, bem digamos que isso não parece ser verdade.
No final temos o embate entre o velho agente de Bardem, que se adaptou aos novos tempos e o novo agente de Craig, que ainda se utiliza da antiga cartilha Bondniana, eobóviamente que o método antigo ganha no final, se utilizando de uma técnica mais antiga ainda (e safadamente preparada no roteiro dentro de uma fala do mordomo de James Bond)…
Sam Mendes termina o seu filme remetendo James Bond à sua Era de Ouro, com direito a um “M” clássico, no seu escritório com a assistente Moneypenny passando uma missão suicida ao seu agente que mesmo com todos os seus defeitos ainda é o melhor… Skyfall termina como se estivesse encerrando a trajetória desse 007 ultimate que vimos emCassino Royale e Quantum of Solace e trazendo o velho Bond de volta.
Nota:8,5
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