terça-feira, 27 de novembro de 2012
A história da Marvel no Brasil - Parte I
Capítulo 1: TV preto-e-branco, gasolina e o Capitão América
Até Odin se surpreendeu! Afinal, quem em sã consciência imaginaria que a Marvel Comics, a Casa das Idéias, um Império de Quadrinhos, com personagens famosos no mundo todo, iria começar sua jornada vitoriosa em terras tupiniquins por meio de... postos de gasolina?
Na verdade, o primeiro contato do leitor brasileiro com os personagens da Marvel Comics se deu nos postos de gasolina. Já o telespectador de desenhos animados conheceu Hulk, Capitão América, Thor, Homem de Ferro, e Namor pela telinha da televisão, desde que sintonizasse a TV Bandeirantes, canal 13 de São Paulo, a TV Rio, a TV Belo Horizonte e a TV Alvorada (DF). O programa tinha o nome de ?Super-Heróis Shell?.
Eram aqueles desenhos ?desanimados?, praticamente páginas dos gibis exibidos com dublagem e algumas ?chacoalhadas? simulando movimentos. Nos EUA, o programa surgiu em 1966, como ?Marvel Action Hour?. Quem tem por volta de 30 anos (ou os mais novos, que tiveram a oportunidade de assistir as reprises nas madrugadas da Fox Kids) com certeza jamais vai esquecer dos temas de abertura dos episódios, devidamente adaptados para o vocabulário ?jovem guarda? da época, assim:
"Tony Stark / Tira onda / Que é cientista espacial / Mas também é / Homem de Ferro / Elétrico, atômico, genial / Dura armadura / Homem de Ferro/ É lenha pura / Homem de Ferro"
?Onde o arco-íris é ponte / Onde vivem os imortais / Do Trovão é Deus, guarda-mor / O barra limpa / o grande Thor!?
?Bruce Banner, o lindo Banner / Exposto aos raios gama / No feio Hulk virou / Esse monstro é incompreendido / Grossa massa / Luta por ser querido / Da força vive o Hulk! / Hulk! Hulk!?
?Ele é o rei dos mares / Meio homem, meio peixe / Também é imortal / O homem submarino/ Real Namor / Dos mares é o senhor!?
?O Capitão América lança seu escudo / Contra os que servem o mal acima de tudo / Avante, gigante, galante, vibrante / Que a brasa queima/ E o mal não teima quando / O Capitão América lança seu escudo?
Capitão Z #0
Super X #0
Álbum Gigante #0
Álbum Gigante #11
A Editora Brasil-América do Rio de Janeiro - a saudosa EBAL que já publicava o material da DC Comics por aqui desde os anos 40, adquiriu então os direitos de publicação dessa nova leva de personagens, e, num convênio com os postos Shell, distribuiu as edições zero de Capitão Z (trazendo as aventuras de Homem de Ferro e do Capitão América nos moldes da Tales of Suspense americana), Super X (com Namor e Hulk a exemplo da original Tales to Astonish) e Album Gigante (com as aventuras de Thor no original, Journey into Mistery) para quem abastecesse seus carros naquele mês de julho de 1967. No mês seguinte, as edições número 1 pintaram nas bancas. Todas em preto-e-branco e num formato quase americano.
A Maior #1
Curiosamente, o Quarteto Fantástico e o Homem-Aranha, considerados pioneiros da ?era Marvel?, e mesmo tendo séries de desenhos animados mais bem produzidos do que os da ?Marvel Action Hour?, só foram aparecer por aqui anos depois.
O aracnídeo favorito de 11 entre dez leitores de gibis só foi dar as caras por aqui em agosto de 1968, nas páginas de Álbum Gigante #11, e passou a estrelar seu título mensal a partir de Abril de 1969. Já o Quarteto Fantástico ?nasceu? em seu título próprio, em Janeiro de 1970. Aliás, 1970 marcou o ano em que ?Capitão Z?, ?Super X? e ?Álbum Gigante? sumiram das bancas. Assim, Capitão América, Thor e Homem de Ferro passaram a ser publicados em ?A Maior?, em junho daquele ano.
O Capitão, talvez o grande sucesso da época, ganharia edições especiais em cores a partir de abril, coisa que só foi acontecer com o Aranha em janeiro de 1974, com o material tirado da revista ?Marvel Team-Up?.
Não se pode esquecer também da revista do Demolidor, que estreou em abril 1969, dos almanaques anuais do Aranha, a partir de 1971 e da revista Kung-Fu, de 1974, que trazia histórias de Shang Chi.
X-Men #1, da GEP
Só que a EBAL não possuía exclusividade sobre o material da Marvel. A partir de 1969, outros títulos começaram a pipocar por outros selos. A GEP, por exemplo, publicava X-Men, Surfista Prateado e Capitão Marvel. A Editora Trieste, em maio de 1969, começou com as aventuras de Nick Fury, o Agente da SHIELD.
Em 1972, A GEA (Grupo de Editores Associados) pegou alguns títulos jogados para escanteio pela EBAL, e lançou, em títulos próprios, Defensor Destemido (sim, era o Demolidor), o Incrível Hulk, o Invencível Homem de Ferro, Poderoso Thor, Príncipe Submarino e Quarteto Fantástico.
Já a Editora Paladino atacou de Ka-Zar e Sargento Fury, enquanto que a Miname & Cunha atacou com Conan, o Bárbaro e Dr. Mistério, mais conhecido como Dr. Estranho. No ano seguinte, foi a vez da Editora Gorrion lançar Luke Cage, o herói de hoje (?) e Shanna, a Mulher Demônio.
Hartan, o Conan pirateado
Também em 1973, Conan foi vítima da pirataria da editora Graúna, que o batizou de Hartan, o Selvagem, numa única edição. Os direitos de publicação do personagem já estavam com a Editora Roval, que lançou o cimério e também as aventuras de ?Koll o Conquistador? (sim, com ?o? mesmo, para evitar o trocadilho).
Todavia, em 1975, a EBAL largou o osso da Marvel no Brasil, que passou a ser publicada pela Bloch Editores, também do Rio de Janeiro. A jornada da Bloch ? na época uma das maiores editoras do país, galgada no sucesso da revista ?Manchete? ? começou em fevereiro daquele ano, com o lançamento de ?O Novo Capitão América?, em cores e em formatinho.
Novo Capitão América, pela Bloch
Em março, foi a vez das revistas do Hulk e do Thor. Em abril, Demolidor, Homem de Ferro e Namor. Em maio, estrearam Homem-Aranha e Tocha Humana. Já em novembro daquele ano, surgiram as revistas de ?Ka-Zar, O Senhor da Terra Perdida? e dos Vingadores.
Já 1976 trouxe mais revistas mensais, como Defensores, Conan, Mestre do Kung-Fu, Punhos de Aço (mais famoso como Punho de Ferro), Tumba de Dracula, Motoqueiro Fantasma e os Almanaques do Capitão América e do ?Aranha e seus amigos?. Apesar de (mal) coloridos, as edições padeciam dos mesmos problemas das edições da EBAL, em especial a tradução e adaptação, permeada de gírias e expressões regionais. Mas assim foi até 1979, quando a Marvel, mais uma vez mudou de casa. E não seria a última...
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