Aviso: Este artigo é recomendado para maiores.
Contém Spoilers.
Viver rápido. Amar rígido. Morrer com a máscara.
Criada por Rick Veitch, a série originalmente continha 5 edições
escritas e desenhadas por ele, toda em tons de cinza. Foi publicada pela
editora Tundra. Quando essa fechou as portas, Rick fundou sua própria
editora, King Hell Press, onde reuniu os cinco números de Brat Pack em
um encadernado especial, revisou o texto, adicionou novas páginas e
mudou o final, fortificando ainda mais a mensagem que ele queria passar
desde o começo. Foi indicado ao Eisner Award de melhor álbum em 1995.
Brat Pack foi publicado no Brasil pela HQM Editora. Esse edição contém um texto, onde o desenhista Stephen Bissete (responsável pela arte espetacular do Monstro do Pântano na fase Alan Moore) nos
explica, que “Brat Pack” foi um título emprestado por Rick Veitch, que
era usado para definir uma geração de atores e atrizes de Hollywood, e o
usou para dissecar as verdades não faladas que sempre rondaram os
quadrinhos de super-heróis.
Neil Gaiman escreveu a introdução à história e também faz um importante
esclarecimento; antes de ler Brat Pack é preciso ter três coisas em
mente, a fim de desfrutar integralmente dela:
1 – Pouco antes da publicação de Brat Pack, a DC Comics promoveu uma
votação telefônica entre seus leitores para decidirem se Robin deveria
morrer ou não. Como resultado, Batman enterrou seu parceiro após ele ser
esfolado vivo pelo Coringa com um pé de cabra e deixado para morrer
numa terrível explosão. Essa edição imediatamente se tornou item de
colecionador.
2 – O personagem Estrela Polar, membro da Tropa Alfa da Marvel Comics
saiu do armário e assumiu sua homossexualidade, e embora não tenha sido o
primeiro personagem gay dos quadrinhos, foi o que mais chamou atenção
para o fato. Essa edição também se tornou item de colecionador.
3 – Rick Veitch assumiu a árdua tarefa de substituir Alan Moore no
título do Monstro do Pântano após sua saída. Rick já havia trabalhado no
título desenhando as histórias de Moore, mas agora teria que ficar
encarregado também dos roteiros. Ele conseguiu segurar a revista com
dignidade durante um período, mantendo o clima de horror sofisticado
implementado por Moore. Mas a DC censurou de última hora a edição
produzida por ele, onde o Monstro teria um lúdico encontro com Jesus
Cristo. A editora considerou que tal abordagem poderia ser interpretada
como “blasfêmia”. Não publicada, essa edição nunca se tornará item de
colecionador. Rick Veitch demitiu-se após esse fato.
E então veio Brat Pack.
Durante anos, Trueman, o maior herói de todos os tempos protegeu a
humanidade. Mas depois de seu desaparecimento, coube a seus ajudantes
continuar com seu legado heroico. Apesar de não possuírem poderes, esse
panteão de corajosos campeões se esforçam para manter as ruas seguras.
Doninha Noturna e seu parceiro Chippy. Senhora da Lua e sua discípula,
Princesa. Rei Rad e seu protegido Selvagem. Juiz Juri e seu aprendiz,
Kid Vício.
Mas as ruas estão mais perigosas do que costumavam ser. Após o confronto
com o terrível “Doutor Blasfêmia” e os eventos que levaram a morte dos
parceiros mirins dos maiores heróis da cidade de Slumburg, novos jovens
são selecionados e começam a ser treinados para substituí-los. Mas com o
tempo, os novos Chippy, Princesa, Selvagem e Kid Vício, descobrem que a
grande honra a qual foram submetidos pode não ser exatamente o que
imaginavam, e que seus pretensos heróis podem ser na verdade a porta de
entrada deles para um novo mundo… repleto de drogas, prostituição,
pedofilia, fetichismo e exploração sexual. O mundo de Brat Pack.
O Doninha Noturna divide a cama com seu novo parceiro mirim, Chippy,e
não tem o menor pudor de deixar claro que tem pleno controle sobre ele,
fazendo do garoto seu brinquedo sexual. Seus métodos são violentos ao
extremo… ele pode matar seus inimigos ou estupra-los em público… apenas
para dar o exemplo.
A Senhora da Lua ensina sua pupila a arte de seduzir e dominar os homens
e como utilizar toda a sua feminilidade e tirar proveito disso. A
exploração da beleza da mulher deve, segundo ela, ser utilizada ao
máximo, e para isso qualquer intervenção cirúrgica é um pequeno preço a
se pagar. Seu método preferido de castigo é a castração de seus
inimigos, cujos “troféus” ela exibe com orgulho em seu cinto.
Rei Rad é um canalha inescrupuloso, misógino e mimado. Tem muito
dinheiro e pouca consciência. É um dos maiores fabricantes de armas do
planeta. Alcoólatra, ele não vê problema algum em treinar um adolescente
como seu novo parceiro, o Selvagem, e ensiná-lo a lidar com armas de
grande calibre e bombas… entre uma e outra dose de whisky.
Juiz Juri é um nazista fanático, elitista e pregador do ódio entre as
diferenças. Seu sonho é eliminar todas as raças “não puras”, o que
inclui os outros heróis da cidade, os quais ele apenas tolera por uma
questão de necessidade. Seu aprendiz, Kid Vício é submetido a todo tipo
de humilhação imaginada, ensinado a odiar todas as etnias “impuras”.
Diariamente recebe uma dose de esteroides, segundo Juiz Juri, o “café da
manhã dos campeões”. Sente dores lancinantes devido ao tratamento de
choque diário de seu mestre, e usa drogas pesadas para suportar o fardo.
Assim é o universo criado pela mente de Rick Veitch para Brat Pack.
Nos anos 50, o Doutor Frederick Wertham, popular psiquiatra e autor do
livro “Sedução do Inocente”, atacou ferozmente os gibis, acusando-os de
ser nocivos aos jovens, apontando vários exemplos de violência e
apologia ao consumo de drogas, assim como o conteúdo homoerótico
implícito nas histórias de Batman e Robin. Houve uma verdadeira caça as
bruxas contra os gibis nessa época, e por causa disso, foi criado nos
EUA, o Comics Code Authority, que regulava o conteúdo e até mesmo
censurava algumas edições. Recentemente o selo foi abolido pelas grandes
editoras. Mas uma pergunta fica: e se o doutor estivesse certo? Ou
melhor ainda, e se alguém escrevesse uma história em quadrinhos onde,
com certeza ele estivesse certo?
Já deu pra começar a pegar o espírito de Brat Pack?
A maioria das imagens deste artigo foram retiradas do site oficial de Rick Veitch , onde é possível baixar gratuitamente a primeira edição de Brat Pack (em inglês).
Por Rodrigo Garrit
Originalmente publicado no Santuário.
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