Antes de começar: resenha especial RECHEADA de spoilers sobre a grande saga atual do Batman, A Noite das Corujas, que ainda está começar no Brasil.
Nos últimos meses, o Batman se viu cercado pelos maléficos planos da Corte das Corujas em uma saga com momentos até que interessantes, principalmente nas mãos do principal roteirista do Homem-Morcego atualmente, Scott Snyder, no gibi mensal Batman. Hoje, nos EUA, foi publicada mais uma HQ do personagem em Batman #10 (DC Comics, 33 páginas, US$ 3,99), uma história que traz uma revelação bombástica sobre o passado da família Wayne.
Preparado para qual é?
Bruce Wayne não é mais filho único. Ele tem um irmão, Thomas Wayne Jr. Tem mais: o mais ~novo~ membro da família Wayne é o LÍDER da organização centenária Corte das Corujas.
Em relação ao gibi, é preciso, primeiro, defender o Snyder. A história por si só ficou muito boa, com uma escalada dramática muito interessante – talvez com excesso de textos, mas é de se esperar em um gibi do Snyder e em uma edição que revela uma parte importante de um plot que está sendo desenvolvido há meses. A arte de Greg Capullo parece ter alcançado o ponto ideal, trazendo um visual dark para o Batman, o que é sempre interessante.
Na história a revelação feita por Thomas Wayne Jr. faz até que sentido. Inclusive a motivação do personagem, que foi internado no Asilo para Crianças Willowwood antes de Bruce nascer, por conta de problemas psicológicos. Na época, era um grande hospital, mas que acabou falindo após seus maiores doadores morrerem baleados. Eram Thomas e Martha Wayne. Duas mortes pelas quais Thomas Jr. culpa o irmão. Agora é um momento de vingança.
Isso tudo poderia ser muito bom SE não estivéssemos falando do Batman, que se gaba (e a DC confirma) de ser o Maior Detetive da Terra. Como ele poderia ser tão bom para descobrir segredos dos outros e nunca perceber um em sua própria mansão? E o Alfred, mordomo dos Wayne desde priscas eras, nunca contou NADA sobre esse irmão perdido? Thomas Jr., inclusive, dá pistas bem claras sobre quem é, mas Bruce não as entende até que o vilão conte a verdade.
Bom, pode ser que o Batman tenha problemas em entender as coisas em volta de sua própria família. Um bloqueio, sei lá. Mesmo assim…
Tem também o retcon que essa revelação acarreta. Dá para dizer que Thomas e Martha Wayne não eram mais pais-modelo. Eram, na verdade, pais que preferiram esconder um filho com problemas das vistas de todos, até mesmo do irmão, e não criaram a criança. Pelo contrário: pagaram muito bem para que OUTROS criassem. Quando morreram, ninguém sabia da existência de Thomas Jr. para poder ajudá-lo. Não faz muito nexo, até.
E se é pra existir um ódio, que Thomas Jr. odeie os pais. Foram eles que abriram mão de criá-lo e o esconderam de todos. Se ninguém foi ajudar a criança, é porque os pais esconderam a verdade de todos.
Pra terminar, tudo isso não passa, em parte, de uma reaproveitamento de ideias antigas da DC. Thomas Wayne Jr. foi introduzido pela primeira vez em 1974, em World’s Finest #223. Naquela HQ, Batman e Superman enfrentam um vilão chamado Boomerang Killer e, no meio do conflito, descobrem que esse cara era o irmão de Bruce, que passou anos internado em uma instituição e acabou manipulado pelo verdadeiro Boomerang Killer. Algumas edições depois o personagem foi devidamente morto e ignorado pra sempre (sem ser considerado para a cronologia do personagem, inclusive). No entanto, a ideia de ter um Thomas Wayne Jr. foi aproveitada décadas depois pelo Grant Morrison em sua passagem pela Liga da Justiça. Naquele momento, Morrison instituiu o Thomas Jr. do Universo de Antimatéria como uma nova versão do vilão Coruja, do Sindicato do Crime da AmériKa – mais uma ligação com a ideia de Corte das Corujas, aliás. Na versão do Morrison, era um universo alternativo, então tudo bem. Só que agora não é assim.
É, DC, há um limite para contar uma boa história. E acredito que vocês, agora, estão ultrapassando isso…
texto by Judão
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